Ainda estava cursando a faculdade de jornalismo na FSBA (Faculdade Social da Bahia), quando a minha ex- professora Simone Freitas,de fotojornalismo solicitou a turma para fazer um ensaio fotográfico sobre algo. Várias idéias iam surgindo entre nós, muitas eram boas e outras tolas, mas que tornaram aquele momento descontraído. Foi então, que sugeri: “Os meninos dos sinais”.
Simone adorou, mas se preocupou com a minha segurança, afinal, eu iria chamar atenção com uma Nikon DS-40 nas mãos, em um lugar que tinha muita gente honesta e outras nem tanto (revoltadas com a situação de exclusão que o Brasil te oferece). Não me intimidei com a preocupação dela que contagiou meu colegas, Malcon Robert e Pedro Duarte, afinal, aquilo tinha que ter um olhar diferenciado, e sábia que era capaz disso.
Reservei a bendita Nikon, que, diga-se de passagem, não me pertencia, assinei um termo de responsabilidade e no outro dia fui para os principais pontos de concentração de meninos e meninas que comercializam nos semáforos da capital baiana.
A primeira parada lógico, foi o Iguatemi. Fui chegando de mansinho, batendo papo, até pedir para autorização dos trabalhadores para tirar fotos do cotidiano deles, deixando claro que só tiraria de quem permitisse, e foi o que fiz. Ganhando moral com a turma percebi que existia uma proteção em relação a minha pessoa, curiosa como sou, não resisti, e, perguntei para o flanelinha quem eram aqueles rapazes que ele tanto olhava debaixo da árvore. Sem exitar ele me respondeu. Aquela é a parte que não vem aqui para trabalhar e sim vadiar, mas que era para não me preocupar, pois eles não mexem com que está com a banda boa.
Muito bem recebida por todos, entre sinal aberto e fotos, a conversa rendeu e não foi só com um não, com quase todos que ali estavam presentes. Mas algumas histórias me chamaram a atenção, pena que eu não guardei comigo os seus nomes, mas o rosto de cada um e o que foi conversado ficou guardado em minha memória.
Na verdade estou divulgando isso hoje, porque sonhei que tinha que escrever esse fato, então acredite, acordei em pleno Domingo, ás 6 horas da manhã para contar para você os sonhos destes trabalhadores autônomos das sinaleiras de Salvador.
O primeiro foi aquele que me protegia. Um rastafári que implorava para limpar os vidros dos carros, com sua garrafa e rodo na mão. Quando o sinal abriu ( verde), ele me revelou que aquilo era a vida dele,era o sustento de sua família e tenta fazer de tudo para comprar uma casinha no seu bairro e sair do aluguel, mas esse sonho tava longe de ser realizado, ele tinha consciência disso. Ops! O semáforo fechou (vermelho). Correu o homem para continuar ganhando as moedinhas.
Depois que o sinal ficou vede de novo, a menina da panfletagem encostou-se a mim e perguntou? “você é jornalista?”. Eu respondi que ainda não, faltava um ano e meio, então ela me revelou que tinha acabado de concluir o segundo grau e que pensou em fazer jornalismo, mas antes pretendia fazer um curso pré-vestibular, na mesma hora sugeri o curso que a ONG (Organização Não Governamental) Oficina de Cidadania oferece gratuitamente, mas para isso ela tinha que aguardar uma nova inscrição do curso. Outro rapaz ouviu a conversa, esse vendia água, mas tratou rápido de querer anotar o nome da ONG para se inscrever. Foi muito legal descobrir que eles querem mudar de vida e da forma mais correta, o conhecimento.
A quantidade de criança se arriscado em meio àquela movimentação de carro era assustadora, mas tinha uma garota tímida que me chamou atenção, pois em suas mãos de menina comercializava um brinquedo do “Papai Noel”, o que para algumas aquilo era diversão, para ela era a sua forma de se manter e ajudar seus pais ( lembrando que de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, o trabalho infantil é proibido), mas infelizmente a frase da musica “criança não trabalha, criança dá trabalho”ainda é uma utopia no nosso país, pois nem todos os pais querem ver seus filho labutar e correr riscos. Infelizmente a comida tem que está na mesa para não passar fome.
Falando nisso, outro ponto que fui e me chamou a atenção foi no Bairro do Rio Vermelho, próximo a FTE (Faculdade de Tecnologia Empresarial), na verdade, a máquina já estava guardada na mochila, quando vi um garoto que tava em uma das sinaleiras da região correndo feito um louco. Bom, fiquei na minha até ver um rapaz (estudante da faculdade) correndo atrás do garoto. Não contei conversa, corri junto e ao mesmo tempo tirando o equipamento da mochila para registrar o assalto, mas quando cheguei o estudante já tinha capturado o menor infrator. Era um menino de aproximadamente seus 13 anos e era bem conhecido na redondeza pelos seus delitos cometidos. A PM ( Polícia Militar) chegou rápido e encostou o garoto que eu vi e mais dois que estavam na frente dele naquela maratona e eu ainda não tinha avistado. O que me surpreendeu é que insistentemente eles diziam que não tinham feito nada, mas a corrente de uma mulher estava nas mãos deles quando o estudante os pegou. A mulher chorando afirmava que tinha sido eles sim. De repente o policial reconhece o menor e pergunta: você não é aquele que levou seis tiros outro dia? O colega e também menor infrator é que responde que foi ele mesmo. Todos se chocam. Levados pelo camburão eles sabiam que logo iam sair e os moradores do local tinham certeza que no outro dia eles iriam pegar mais um.
Este é o fim de uma história vivida, em um certo dia da minha vida, que mostrou uma realidade da sociedade brasileira em vários níveis: medo, desemprego, risco,esperança,sonhos, trabalho e criminalidade infantil. Este foi um dia de aula da realidade sócio cultural e econômica da vida brasileira.
Por: Cida Bastos
Simone adorou, mas se preocupou com a minha segurança, afinal, eu iria chamar atenção com uma Nikon DS-40 nas mãos, em um lugar que tinha muita gente honesta e outras nem tanto (revoltadas com a situação de exclusão que o Brasil te oferece). Não me intimidei com a preocupação dela que contagiou meu colegas, Malcon Robert e Pedro Duarte, afinal, aquilo tinha que ter um olhar diferenciado, e sábia que era capaz disso.
Reservei a bendita Nikon, que, diga-se de passagem, não me pertencia, assinei um termo de responsabilidade e no outro dia fui para os principais pontos de concentração de meninos e meninas que comercializam nos semáforos da capital baiana.
A primeira parada lógico, foi o Iguatemi. Fui chegando de mansinho, batendo papo, até pedir para autorização dos trabalhadores para tirar fotos do cotidiano deles, deixando claro que só tiraria de quem permitisse, e foi o que fiz. Ganhando moral com a turma percebi que existia uma proteção em relação a minha pessoa, curiosa como sou, não resisti, e, perguntei para o flanelinha quem eram aqueles rapazes que ele tanto olhava debaixo da árvore. Sem exitar ele me respondeu. Aquela é a parte que não vem aqui para trabalhar e sim vadiar, mas que era para não me preocupar, pois eles não mexem com que está com a banda boa.
Muito bem recebida por todos, entre sinal aberto e fotos, a conversa rendeu e não foi só com um não, com quase todos que ali estavam presentes. Mas algumas histórias me chamaram a atenção, pena que eu não guardei comigo os seus nomes, mas o rosto de cada um e o que foi conversado ficou guardado em minha memória.
Na verdade estou divulgando isso hoje, porque sonhei que tinha que escrever esse fato, então acredite, acordei em pleno Domingo, ás 6 horas da manhã para contar para você os sonhos destes trabalhadores autônomos das sinaleiras de Salvador.
O primeiro foi aquele que me protegia. Um rastafári que implorava para limpar os vidros dos carros, com sua garrafa e rodo na mão. Quando o sinal abriu ( verde), ele me revelou que aquilo era a vida dele,era o sustento de sua família e tenta fazer de tudo para comprar uma casinha no seu bairro e sair do aluguel, mas esse sonho tava longe de ser realizado, ele tinha consciência disso. Ops! O semáforo fechou (vermelho). Correu o homem para continuar ganhando as moedinhas.
Depois que o sinal ficou vede de novo, a menina da panfletagem encostou-se a mim e perguntou? “você é jornalista?”. Eu respondi que ainda não, faltava um ano e meio, então ela me revelou que tinha acabado de concluir o segundo grau e que pensou em fazer jornalismo, mas antes pretendia fazer um curso pré-vestibular, na mesma hora sugeri o curso que a ONG (Organização Não Governamental) Oficina de Cidadania oferece gratuitamente, mas para isso ela tinha que aguardar uma nova inscrição do curso. Outro rapaz ouviu a conversa, esse vendia água, mas tratou rápido de querer anotar o nome da ONG para se inscrever. Foi muito legal descobrir que eles querem mudar de vida e da forma mais correta, o conhecimento.
A quantidade de criança se arriscado em meio àquela movimentação de carro era assustadora, mas tinha uma garota tímida que me chamou atenção, pois em suas mãos de menina comercializava um brinquedo do “Papai Noel”, o que para algumas aquilo era diversão, para ela era a sua forma de se manter e ajudar seus pais ( lembrando que de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, o trabalho infantil é proibido), mas infelizmente a frase da musica “criança não trabalha, criança dá trabalho”ainda é uma utopia no nosso país, pois nem todos os pais querem ver seus filho labutar e correr riscos. Infelizmente a comida tem que está na mesa para não passar fome.
Falando nisso, outro ponto que fui e me chamou a atenção foi no Bairro do Rio Vermelho, próximo a FTE (Faculdade de Tecnologia Empresarial), na verdade, a máquina já estava guardada na mochila, quando vi um garoto que tava em uma das sinaleiras da região correndo feito um louco. Bom, fiquei na minha até ver um rapaz (estudante da faculdade) correndo atrás do garoto. Não contei conversa, corri junto e ao mesmo tempo tirando o equipamento da mochila para registrar o assalto, mas quando cheguei o estudante já tinha capturado o menor infrator. Era um menino de aproximadamente seus 13 anos e era bem conhecido na redondeza pelos seus delitos cometidos. A PM ( Polícia Militar) chegou rápido e encostou o garoto que eu vi e mais dois que estavam na frente dele naquela maratona e eu ainda não tinha avistado. O que me surpreendeu é que insistentemente eles diziam que não tinham feito nada, mas a corrente de uma mulher estava nas mãos deles quando o estudante os pegou. A mulher chorando afirmava que tinha sido eles sim. De repente o policial reconhece o menor e pergunta: você não é aquele que levou seis tiros outro dia? O colega e também menor infrator é que responde que foi ele mesmo. Todos se chocam. Levados pelo camburão eles sabiam que logo iam sair e os moradores do local tinham certeza que no outro dia eles iriam pegar mais um.
Este é o fim de uma história vivida, em um certo dia da minha vida, que mostrou uma realidade da sociedade brasileira em vários níveis: medo, desemprego, risco,esperança,sonhos, trabalho e criminalidade infantil. Este foi um dia de aula da realidade sócio cultural e econômica da vida brasileira.
Por: Cida Bastos
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